Rede de Comunidades: Somos Todos Igrejas

Rede de Comunidades: Somos Todos Igrejas

A realidade das redes difundem-se em diversas áreas pelo mundo. Por trás está a metáfora de fios que se entrelaçam para formar um objeto firme, flexível, em que cada linha oferece presença e só adquire consistência porque está unida a outras. Bela imagem do clássico axioma de que a união faz a força.  

Em vários ambientes se pensam as redes. No mundo da produção interessa, sobretudo, a união de forças, a economia de recursos para produzir efeito consistente. Opõe-se à multiplicação de iniciativas, o esbanjamento de recursos, a dispersão de energias e esforços, prejudiciais à produtividade. Em vez de diversas pessoas realizarem trabalhos individuais, repetitivos, desarticulados, empobrecidos na repercussão e efeito, elas se unem construindo rede de trabalho orgânico com economia de pessoas, material e tempo. No campo social, as redes têm adquirido relevância singular como estrutura de pessoas e organizações que se interligam por vários tipos de relações, ao desposar valores e objetivos comuns. As relações em lugar de virem de cima, verticais, fazem-se de maneira horizontal, evitando traços hierárquicos. As redes sociais mostram enorme flexibilidade para se constituírem, transformarem-se e até mesmo dissolverem-se. Algumas se criam on-line, se articulam com Facebook, Twitter adquirindo rapidez e grau de mobilização dos interconectados. Elas desempenharam papel fundamental político na derrubada dos regimes da Tunísia e de Hosni Mubarak, no Egito.     A pergunta se volta para a Igreja. Até onde as redes de comunidades cumprirão papel semelhante no interior da Igreja? Elas dispõem de extraordinário poder de animação, gestando novo tipo de relacionamento no seu interior. Na Igreja Católica aí se situa o ponto nodal que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) coloca em discussão entre os católicos, enviando às dioceses o  Estudo 104 “Comunidades de comunidade: uma nova paróquia”. Pensar e concretizar a paróquia como rede de comunidades, a diocese como rede mais ampla ainda e toda a Igreja como gigantesca rede, denominada Comunidade de Comunidades, implicará profunda transformação espiritual e institucional.

No nível espiritual, deslocar-se-á o acento para a vida comunitária em todos os níveis, desde o familiar até o de toda a Igreja. Na pós-modernidade extremamente individualista, a Igreja proporá, neste caso, outro caminho de vivência humana e de fé. As pessoas criarão, aos poucos, laços de fraternidade entre si. A vivência do Evangelho responde a esse movimento. Jesus insistiu muito em que nos amássemos entre nós, como ele nos amou. E buscou o modelo na própria Trindade,  comunidade perfeita em que cada pessoa é a sua relação com as outras. Aqui o verbo “ser” adquire toda a força. Então, quem sabe, perceberíamos o espanto dos pós-modernos, ao ver-nos, semelhante ao dos pagãos do início do Cristianismo que admiraram o amor mútuo dos cristãos. No plano institucional, a participação substituiria o direcionismo frequente por parte do clero. Leigos adquiririam maior presença na Igreja, assumindo com denodo a missão evangelizadora. Realizar-se-ia a frase tão repetida nas CEBs: A Igreja somos nós.  Apareceriam talentos apostólicos que hoje permanecem na inércia de fazer o que se lhes manda. Predominariam, então, o engajamento consciente e a participação livre, somados à lealdade de cada um a todos.

Por: Thales Santos

E-mail: thalessantos2@hotmail.com