OS FATOS E SEUS PERIGOS

OS FATOS E SEUS PERIGOS

O ladrão e o Frei

Um dia de sábado, depois de terminar suas aulas na Universidade, desceu do ônibus e se dirigiu na feira do Malhado onde eram vendidas laranjas. Vendo a pasta pesada o malandro imaginou repleta de dinheiro e o seguiu. Feitas suas compras, o Frei, com sua sacola de mercadoria, se dirigia, o inocente, rumo à parada dos ônibus. Com um empurrão e um pontapés o ladrão e o comparsa arrancaram-lhe a pasta e correram. O Frei seguiu os malandros e já pensava em alcançar os fugitivos e receber de volta a pasta, mais uma perna e um empurrão o jogaram numa poça de lama e de sujeira. Diante da queda só ganhou a sujeira, mas salvou a cabeça de ter quebrada nas grandes pedras presentes, onde dias atrás um senhor tinha encontrado a morte e algumas velhinhas quebrarem a bacia ou a perna. O assalto usava sempre a mesma técnica, era uma combinação de bandidos de quatro ou mais. Arranhões, sujeira, calças, rasgadas foram o fruto do encontro inconveniente. A pasta e os livros foram logo encontrados e os documentos dias depois, convocado por uma rádio local. O que ficou foi o susto, a falta de dinheiro, as compras e sobre o ladrão, o desconhecimento.  Na festa de São Sebastião, celebrado no mês de janeiro, um seqüestro se realizou na garagem do convento. Quando chegou um religioso, um bandido, que tocaiava uma chegada, pois todos os religiosos estavam ocupados com a festa do Padroeiro, entrou em ação. Como seu costume o religioso estacionou em seu lugar, e, quando estava saindo, se aproximou um estranho ao carro recém chegado. O facínora mostrou e apontou um revolver na janela do carro, dizendo: é um assalto, pára e dá-me a chave. Sentado à sua direita mandou-lhe apagar os faróis, ordenando-lhe de dirigir devagaramente e sair da garagem. Na rua, que é a nossa e silenciosa, ordenou de seguir até a rua dos eucaliptos, pois ela estava às escuras, deserta e sem moradores. Foi amarrado e ligado com uma corda de couro, prendendo-lhe as mãos e os pés, o jogou no fundo do carro. O bandido foi-se com as chaves do carro, para receber as instruções dos mandantes, pois não sabia dirigir. O calor produziu forte suor, que escorria pelo corpo inteiro do Frei e a transpiração, copiosa e abundante, molhou as cordas que eram de couro. Elas se tornaram alongadas e moles,  possibilitando a libertação das mãos presas atrás das costas e a liberação dos pés. Solto conseguiu pular fora do carro e corria e gritava na rua: “socorro”. Nenhuma alma viva apareceu, mas alcançou a polícia. O ladrão-assaltante não foi encontrado e o Frei foi para o hospital aliviar uma dor acutíssima no estomago e os Freis, diante do medo, amontoaram uma coluna de sedias e mesas segurando a porta. As chaves não foram encontradas, mudanças nas fechaduras foram feitas para as portas do convento, como para o carro.

Um plano

organizador de morte surgiu da pregação religiosa, que defendia a justiça social. Tal proclamação era uma ofensa para um poderoso fazendeiro, cuja afronta e pecado deveriam ser lavados com a morte. O plano foi orquestrado, considerando o comportamento do Religioso, que, sempre à noite, voltava para o convento. Uma corda estendida na estrada de asfalto e habilmente levantada no momento exato da passagem do carro causaria uma capotagem, chamando em cena a presença de olheiros que, jogando gasolina sobre o carro e ateando fogo, dariam ao insano pregador a felicidade de terminar sua existência. Tal ato, invocado pelo fazendeiro como fatalidade, iria se transformar numa declaração de um acidente e catalogado como acontecimento de transito e, assim, seria qualificado no livro da polícia. Os pêsames do fazendeiro seriam proclamados diante da cidade, que era assistida pelo Frei. A perda seria acompanhada por um grande choro, que exaltasse o espírito missionário, a dedicação religiosa e a bondade humana do defunto, repleto de piedade e de virtudes, certamente um santo no céu. A tristeza do mandante se manifestaria numa grande coroa de flores e a declamação enfática de um discurso, feito na Igreja, que exaltassem o valor humano e religioso do falecido. Pétalas de rosas seriam despejadas sobre o caixão no cemitério. O plano fracassou, pois um amigo do Frei avisa-o do perigo, que movimentou o Bispo, cuja intervenção quebrou o encanto dos efeitos e a satisfação da vingança. O Frei viveu.

Duas ameaças

de morte foram vencidas diante da firmeza religiosa. Uma querendo a realização de um casamento impossível, exigindo todas as solenidades na Igreja, pois a irmã devia casar-se e a cidade devia assistir a grande celebração. A outra nasceu pela queixa sobre o comportamento do pedreiro que trabalhava na recuperação da casa paroquial. Constatando que o material de construção desaparecia da obra, viu-se que o material comprado de dia voava ao anoitecer, carregado por duas crianças num carrinho e no dia seguinte era vendido noutro lugar. Confrontando os beneficiários e as crianças com o pedreiro-ladrão, este se alvoroçou e, tirando o revolver do bolso, gritava: eu te mato, eu te mato. A conclusão não aconteceu, pois estávamos na rua com muita gente e, atirando ao alto, foi-se.

A última história

de tentativa de morte em Ilhéus. O Frei estava tomando o café de manhã na cozinha e se sentiu reanimar-se, mas quebrado, no quarto. Não sabia, nem sabia o que tinha aconteceu. Conseguiu se despertar do sono do além, encontrando-se já elevado na altura da porta de seu quarto. Reanimado se arrastou até à cozinha, esperando a chegada da empregada. A doce passagem nas mãos dos bandidos, e eram três, deixaram o pobre homem com a hemorragia cerebral, o estouro do tímpano, o desaparecimento de diversos dentes, as costelas desconjuntadas, a barriga machucada. A hemorragia cerebral foi assimilada pelo organismo curada no hospital, mas deixando suas sequelas e suas consequências. Costurou a barriga em seguida, deixando as costelas remodelar-se com os inúmeros remédios ordenados pelos médicos, ficando para tempos futuros o conserto dos dentes e do ouvido. Anos depois se soube que os três bandidos do assalto ao Frei no convento foram mortos pela vingança realizada pelos nossos vizinhos marginais, que não aceitaram a intromissão de salteadores, em campo estranho, agredir o vigário deles. Os três facínoras apagados eram: dois comuns, e um pai-de-santo e este acompanhou e abençôo todos os momentos do assalto. A busca de um policial ficou perdida no tempo, pois faleceu por infecção renal.