O caminho de Jesus (Lc 10,25-37)

O caminho de Jesus (Lc 10,25-37)

            Um doutor da lei pergunta a Jesus como pode herdar a vida eterna. Jesus manda ver o que diz a lei: “Amarás o Senhor, teu Deus ... e o próximo como a ti mesmo” (10,27). Iluminado de toda a experiência da história do seu povo, o doutor sabe amar a Deus, mas não conhece o conteúdo do amor ao próximo, e, então, faz a Jesus uma nova pergunta (10,29). A resposta de Jesus, em forma de parábola, supera tudo aquilo que o homem podia conhecer acerca da vida.

            Os traços da parábola são bem conhecidos. O modo de amar o próximo consiste em ajudar o marginalizado e qualquer um que sofre qualquer tipo de dor. O texto fala de um homem assaltado por bandidos durante a viagem, mas, no contexto geral este assalto não tem importância. O homem é simplesmente o símbolo de todas as pessoas que sofrem justa ou injustamente, com ou sem motivos.

            Jesus diz que o bom próximo não busca razões nem faz perguntas: simplesmente constata que existe uma miséria e oferece sua ajuda. O caráter, as funções ou a responsabilidade daquele que está ferido são questões sem importância: a lei que guia tudo é a descoberta da necessidade do outro e a disponibilidade de oferecer ajuda.

            Esta é a espinha dorsal da parábola, mas há mais alguns elementos que nos ajudam a compreendê-la melhor.

            1. Percebe-se um ar antirritual que se respira na história: o sacerdote e o levita, representantes oficiais do amor de Deus na estrutura religiosa israelita, passam adiante depois de ter visto o ferido (10,31-32). Seu comportamento mostra que o amor de Deus que eles representam é uma mentira e que a toda a sua existência religiosa é enganação.

            2. A história nos lança fundo na secularidade da vida. A realidade do nosso amor ao próximo nos joga simplesmente no campo das relações interpessoais. Aí deve reinar o mandamento de Deus e transforma a nossa existência.

            3. Tornando-se norma de conduta a parábola do bom samaritano pode ser o fundamento de um novo conceito de humanidade. Nesta humanidade são superadas as barreiras de raça e de religião; o que importa é o empenho de amor. A cena também oculta diversas emoções provadas pelos protagonistas. Poder-se-ia pensar que o sacerdote tenha tido alguma compaixão do ferido, e que o samaritano teria preferido não se encontrar em condições de poder ajudar. O que importa na realidade é o amor que gera comunhão (oferece ajuda).

            4. No contexto do Evangelho, a parábola adquire um sabor profundamente cristológico. O samaritano é Jesus. No seu amor se revela (e se realiza) o grande amor de Deus para com os homens. Assim o amor ao próximo, que aqui é recomendado, deve ser interpretado como uma continuação do amor que Deus nos ofereceu.

            5. Tudo isso, enfim, nos coloca na exigência da missão. A mensagem da Igreja oferece aos homens o mistério do amor de Deus e os convida a comportar-se de modo coerente. Onde os homens amam como o bom samaritano, se supera satanás e se introduz Cristo no nosso mundo.