A CRIAÇÃO DA PARÓQUIA DE SANTA RITA DE CÁSSIA

A CRIAÇÃO DA PARÓQUIA DE SANTA RITA DE CÁSSIA

Visão Histórico-Sociológica

A Igreja Católica Apostólica Romana é uma composição que reflete, no seu operar, a doutrina de Jesus Cristo, mas ligada, intima e indissociavelmente, às relações humanas, que geram e que se desempenham a partir de condições históricas. São, portanto, complexas e que resultam, por efeitos múltiplos, nem sempre previsíveis e que podem dar-se fora do próprio campo de ação. Isso significa que o agir, pela força da subjetividade e pelo papel das relações de poder, realiza transformações e mudanças.

A busca renovadora é uma qualidade fundamental do agir humano tornado visível, na atualização do agir humano e na percepção das mudanças acontecidas. Os elementos, que foram desconhecidos ou que foram entregues ao esquecimento, quando reavivados pelo conhecimento, se tornam sempre degraus de crescimento e de enriquecimento humano, social e religioso.

O estudo nos leva a perceber o esforço renovador, conquistado por homens corajosos, que, levados para uma terra nova, souberam vencer as agruras e as dificuldades, dando coragem às pessoas e traçando um horizonte novo. A gente que foi encontrada na caminhada dos Carmelitas foi o povo de Ilhéus.

Aos homens do mato, ainda que abandonados e que souberam guardar suas características e identidades, conseguiram encontrar o processo de organização e de coragem na pregação dos Padres Carmelitas. A produção do cacau, com sua epopéia do “ouro”, estabeleceu a grandeza dos produtores, estabelecendo uma hierarquia social e religiosa, marcada por uma arquitetura particular, manifestada pelas casas que os fazendeiros mandavam construir nas cidades.

A influência da Igreja favoreceu a formação de algumas cidades e a religião foi o mecanismo que inspirou e norteou o crescimento dos povoados, sublinhando-se a presença das igrejas, das capelas e dos conventos, ficando as moradias e os edifícios civis e militares ao estímulo dos quereres políticos ou às exigências dos particulares.

Em todas as fases do nascimento, crescimento e formação das novas urbes, preside sempre, com a presença do missionário, o espírito cristão e, ainda, no ritual folclórico refletem-se os elementos oriundos do passado, considerando a origem de cada grupo. Na diversidade dos diversos conjuntos, formados pela religião e crenças, a unificação religiosa foi realizada pela animação dos diversos fatores da fé. Escolhia-se, primeiramente, um santo protetor, que determinava a presença de sua imagem, reconhecido como o santo protetor e a construção de uma igreja. Seguia-se à fundição de um sino, sinal de grandeza, e, quando pronto, solenemente era conduzido, em procissão, até à igreja e ali era bento e batizado.

Quando o animador era o fazendeiro, era o mesmo que assumia a escolha do protetor, a construção da capela, a compra do sino, tudo obedecendo ao querer pessoal, chamando todos os anos o celebrante para realizar os atos religiosos na festa do santo. Todos os vizinhos e, de modo especial os fazendeiros, eram solenemente convidados para a celebração, tendo cada amigo um dia dedicado no novenário. Tal comportamento fundava os primeiros espaços de sociabilidade no meio da mata, unindo as diversas fazendas, os fazendeiros e os trabalhadores, estabelecendo tal civilização à sombra da cruz.

As ermidas esparsas foram erguidas pela devoção leiga, forçada pela ausência de religiosos, iniciativa que movimentava um grupo de fiéis a erguer nichos de oração nas propriedades particulares ou em terras invadidas. Cada lugar era um espaço de adoração ao santo de devoção, muitas vezes sem a devida licença das autoridades eclesiásticas. Com frequencia as construções eram resultado de uma promessa, feita visando agradecer ou obter algum favor de um santo. Essas construções religiosas passaram, lentamente, a produzir uma incipiente forma de aglutinação, até reunindo alguns povoados, tornando-se relevantes no processo de desenvolvimento e povoamento, nas ribeiras e nos pedaços de terra concedidos pelos fazendeiros. Foi a partir disso que se ergueram as primeiras casas, que aos poucos foi delineando o traçado das primeiras ruas, tornando o templo como eixo simbólico do povoado.

Percebe-se que o movimento se efetuou como marco dinamizador dos primeiros aglomerados humanos, onde a quantidade e a qualidade dos templos estavam, intimamente, ligadas ao numero populacional dos povoados, repercutindo ao seu crescimento e à vida dos moradores.

A relação que regia as cidades, as vilas e os povoados foram classificados conforme sua importância eclesiástica, critério que obtinha o crivo papal na formação das dioceses, tendo condição básica para um local capaz de receber a instalação dos aristocráticos dignitários da igreja.

O desenvolvimento social se concretizava pelos trabalhos religiosos, motivando as aglomerações espontâneas. Estimulava-se a formação social e mesmo espacial da região, onde os religiosos procuravam estabelecer a normalidade das relações sociais e o diálogo entre os fazendeiros. Despertava-se o valor do trabalhador diante do padroado e favorecia-se a unificação das pessoas, mediante um catolicismo homogêneo. Na perspectiva de uma construção cultural, que unia os diversos grupos, a fundamentação religiosa era essencial.

Desenvolvimento urbano e igreja, cidade e religião, campo e fé são elementos que expressam os sentidos do crescimento e consagram a incessante busca do crescimento. O conhecimento religioso busca, portanto, as fontes de aspirações humanas, implícitas na racionalidade, viva no tempo, mas com a superação das problemáticas multiplicativas. Entendida como a polifonia do mundo humano, percebe-se o valor da cidade e dos campos. Isso exige, embora de forma tímida, anunciar a importância de aprofundar as idéias, os ideais e compreender as conquistas realizadas pela igreja, nascidas pelos esforços efetuados na historia, urbana e rural.

Partindo da premissa que o “religioso” e a “sociedade” se constroem mutuamente, formando o hoje e lançando as pedras do futuro, sempre mais amplificado, as ações das experiências cotidianas formam e estruturam as pessoas. Ampliando a visibilidade do sagrado, considerado na vida particular, como social, floresce e se estabelece a hierarquia eclesiástica, operadora e animadora da transformação humana e social.